Marca do CRQ para impressão
Disponível em <https://crqsp.org.br/telurio/>.
Acesso em 06/07/2025 às 09h08.

Elemento Químico – Telúrio

Elemento Químico – Telúrio

2 de julho de 2025, às 10h21 - Tempo de leitura aproximado: 7 minutos

Telúrio: tóxico, raro e malcheiroso

 

O telúrio é o nono elemento mais raro do planeta Terra. Foto: Nasa/AJS

 

O telúrio é um metaloide branco-prateado de número atômico 52 e símbolo Te, pertencente ao grupo 16 da tabela periódica, dos calcogênios, também formado por oxigênio, enxofre, selênio e polônio.

É o nono elemento mais raro da terra, é tóxico e, por ser similar ao enxofre, tem como uma das características o terrível odor exalado por seus compostos. O mau cheiro pode literalmente impregnar em trabalhadores que tenham contato com ele se não for manuseado de forma adequada.

Mas além dessa característica, o telúrio tem utilizações na indústria e, inclusive, em novas tecnologias e em pesquisa.

 

Obtenção e produção

Silvanita, calaverita e telurita: minerais que contêm telúrio. Foto: Wikimedia Commons

 

O telúrio é extremamente raro, um dos nove elementos mais raros da Terra. Ele está presente na crosta terrestre em apenas 0,001 partes por milhão, numa proporção menor que a da platina. Existe isolado na natureza, mas com maior frequência é encontrado nos minerais calaverita (AuTe2), silvanita (AgAuTe2), krennerita (AuTe2), petzita (Ag3AuTe2) e telurita (TeO32-), entre outros.

A principal fonte de obtenção comercial do telúrio é por lamas anódicas durante o refino eletrolítico do cobre. Mesmo desta forma sua obtenção é difícil: o refino de 500 toneladas de minério de cobre normalmente produz algo em torno de 453 gramas de telúrio.

Dados estimados em 2024 apontam que foram produzidas 980 toneladas de telúrio no mundo, sem contar a produção dos Estados Unidos. A China foi a maior produtora de telúrio refinado, respondendo por aproximadamente 75% de toda a produção global, e vem aumentando a produção significativamente nos últimos dez anos. Depois da China, os maiores produtores mundiais de telúrio foram Rússia e Japão.

 

Características e usos

 

Uma das principais aplicações do telúrio é na fabricação de células solares. Foto: Visual Hunt

 

O telúrio é um metaloide de cor prateada clara, quebradiço com brilho metálico quando sólido; é cinza escuro a marrom na forma de pó. Assemelha-se ao estanho, sendo quimicamente relacionado ao selênio e ao enxofre. Todos os compostos do telúrio são potencialmente tóxicos e devem ser manuseados com cuidado.

O telúrio, quando queimado em presença do ar, produz uma chama verde azulada, e forma o dióxido de telúrio (TeO2) como produto. Quando fundido, o telúrio tem a capacidade de corroer o cobre, o ferro e o aço inoxidável. O telúrio se combina diretamente com a maioria dos elementos, tanto metais como não-metais, embora com menor facilidade que o oxigênio.

O telúrio é usado principalmente na produção de telureto de cádmio (CdTe) para células solares de película fina. Outro importante uso do elemento é na produção de telureto de bismuto (Bi2Te3), empregado em dispositivos termoelétricos para resfriamento e geração de energia.

Na metalurgia ele é utilizado em aditivos de ligas com outros metais; pequenas quantidades de telúrio são adicionadas ao cobre e ao aço inoxidável para aumentar a maquinabilidade e facilitar a fresagem. Quando acrescentado ao chumbo, ele torna-o mais forte e resistente ao ácido sulfúrico.

Outros usos incluem a vulcanização da borracha, a produção de células solares, em CDs e DVDs reutilizáveis e como catalisador no refino de óleo. É o componente principal de detonadores. O telúrio também é utilizado como agente colorizante em porcelanas, louças, esmaltados e em vidros, e em acabamentos de objetos de prata.

Ele pode ser dopado com prata, ouro, cobre e estanho em aplicações como semicondutores para dispositivos elétricos. Isótopos de telúrio têm aplicação em imagens médicas. O telúrio forma muitos compostos, mas nenhum com importância comercial.

O metaloide pode estar presente em quantidades mínimas em alguns alimentos que consumimos no cotidiano, como alho, cebola, leite, peixes e fígado. As quantidades variam de acordo com o solo em que os alimentos foram cultivados, da contaminação da água e da alimentação dos animais, mas geralmente aparece apenas em quantidades traço.

Assista ao vídeo da Universidade de Nottingham que mostra algumas características do telúrio:

 

 

Cheiro terrível

O telúrio não desempenha papel biológico conhecido. Ele é tóxico e teratogênico, o que significa que afeta o desenvolvimento de embriões ou fetos, e por este motivo o elemento e seus compostos devem ser manuseados com cuidado.

Além disso, o telúrio e seus compostos exalam um cheiro fétido extremamente desagradável mesmo em baixas concentrações, semelhante a alho e ovo podre, repolho estragado e borracha queimada.

Trabalhadores expostos a quantidades mínimas do elemento, como 0,001 mg/m3 no ar, e a seus compostos, podem ter náuseas, vômitos e desenvolver o terrível “hálito de telúrio”. Esse odor desagradável é causado pela metabolização do telúrio no corpo quando o elemento é manipulado sem os cuidados necessários. Ao metabolizar o telúrio em qualquer estado de oxidação, ele é convertido em telureto de dimetila (C2H6Te), que é volátil e produz o cheiro de alho estragado, que pode permanecer por um bom tempo no organismo da pessoa contaminada.

O odor desagradável proveniente de pneus queimados se deve, em parte, à presença de compostos de telúrio adicionados à borracha em pequenas quantidades, como catalisadores durante o processo de vulcanização.

 

Descoberta na Transilvânia

 

Von Reichenstein e Klaproth: o descobridor e o químico alemão que produziu telúrio puro.

 

O telúrio foi descoberto pelo mineralogista romeno Franz Joseph Müller von Reichenstein, inspetor chefe de minas e usinas de beneficiamento de minérios da Transilvânia.

Interessado por química, Reichenstein pesquisava o antimônio, e em 1782 extraiu o novo elemento de um minério de ouro conhecido como aurum album. Logo descobriu que o metal obtido não era antimônio, mas um elemento desconhecido.

Em 1796, Reichenstein enviou uma amostra do novo elemento para o químico alemão Martin Heinrich Klaproth, em Berlim, que confirmou a descoberta e publicou suas características em um estudo.

Klaproth denominou-o de telúrio, em referência à palavra tellus, que em latim significa Terra. O químico alemão produziu telúrio puro, e deu o crédito da descoberta a Reichenstein. Klaproth também avalizou os resultados obtidos pelo cientista húngaro Paul Kitaibel, um descobridor independente do telúrio.

 

Referências

Tellurium. Disponível em https://periodic.lanl.gov/52.shtml. Acesso em 11/02/205.

Tellurium. Disponível em https://periodic-table.rsc.org/element/52/tellurium. Acesso em 11/02/205.

Tellurium. Disponível em  https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/compound/6327182. Acesso em 11/02/205.

The Element Tellurium. Disponível em https://education.jlab.org/itselemental/ele052.html. Acesso em 11/02/205

Tellurium. Disponível em  https://www.chemeurope.com/en/encyclopedia/Tellurium.html#google_vignette. Acesso em 11/02/205.

J.D.Lee. Química inorgânica não tão concisa. 1996. Ed. Edgard Blucher.

Selenium and Tellurium Statistics and Information. Disponível em https://www.usgs.gov/centers/national-minerals-information-center/selenium-and-tellurium-statistics-and-information . Acesso em 11/02/2025

Telúrio. https://pt.wikipedia.org/wiki/Tel%C3%BArio. Acesso em 11/02/2025

Maar. História da Química-Segunda parte: de Lavoisier ao Sistema periódico. 2011. Ed. Papa-Livro.

Tellurium. Disponível em https://pubs.usgs.gov/periodicals/mcs2025/mcs2025-tellurium.pdf. Acesso em 11/02/205.

ATKINS, P. W. Shriver & Atkins química inorgânica. BOOKMAN, 2008.

EMSLEY, J. Nature’s Building Blocks: An AZ Guide to the Elements , Oxford University Press, Nova York, 2ª edição, 2011.

RATHOD, K. C. et al. Effect of Temperature on Photovoltaic Solar Cell Cadmium Telluride Thin Film. Advances in Materials Physics and Chemistry, v. 13, n. 01, p. 1–15, 2023.

ROYAL SOCIETY OF CHEMISTRY (RSC). Royal Society of Chemistry (RSC) – Development of the periodic table. Disponível em: https://www.rsc.org/periodic-table.

 

 

Texto produzido pela jornalista Mari Menda da Gerência de Relações Institucionais
do CRQ-SP e  revisado pela Profa. Márcia Guekezian, Coordenadora do curso de
Engenharia Química da Faculdade de São Bernardo do Campo – FASB

Compartilhar