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Acesso em 30/10/2024 às 04h23.

Seminário debateu desafios e perspectivas da indústria do petróleo

Seminário debateu desafios e perspectivas da indústria do petróleo

Geopolítica, exploração, refino e fiscalização foram alguns dos temas abordados

29 de setembro de 2023, às 16h44 - Tempo de leitura aproximado: 7 minutos

 

Para celebrar o Dia Mundial do Petróleo, comemorado em 29 de setembro, a Comissão Técnica de Energia (CTEN) promoveu um seminário no canal do Conselho no YouTube. Na pauta, os principais desafios e perspectivas da indústria do petróleo, da geopolítica à inovação. O mediador do encontro foi o Químico e especialista do mercado de petróleo Carlos Tooge, coordenador da CTEN.

Geopolítica do Petróleo

 

O primeiro palestrante foi Claudio Modenesi, que falou sobre o tema Geopolítica do Petróleo. Ele abriu sua fala definindo geopolítica e a necessidade de se obter energia. Disse que o petróleo é muito difícil de substituir por causa de sua alta densidade energética. Opções como gás natural e hidrogênio gasoso possuem muito menos densidade energética, e ainda não se conhece nenhum combustível que tenha a mesma quantidade de energia por volume.

Ele mostrou que em 2022, 81,8% da matriz energética mundial ainda se baseava na energia fóssil: petróleo, gás natural e carvão; o restante é dividido entre energia nuclear e energias renováveis. No Brasil, 50,3% da matriz energética no ano passado foi gerada por energia fóssil, sendo o restante energias renováveis, como hidrelétricas; por isso, é possível constatar que temos uma matriz com menor emissão de carbono. Modenesi apresentou dados sobre o consumo per capita de energia e as reservas de petróleo já conhecidas no mundo, com destaque para Venezuela, com reservas para 500 anos, e a Líbia, com reservas para 339 anos, enquanto as reservas brasileiras são suficientes para 10,8 anos.

Exploração e produção do petróleo

 

A segunda palestra foi sobre Exploração e Produção do Petróleo, com o Químico Industrial Valderio de Oliveira Cavalcanti Filho. Ele trouxe gráficos sobre a origem do petróleo: a teoria mais aceita é que o petróleo foi formado na natureza pela decomposição da matéria orgânica, como pequenos animais, vegetais e fitoplânctons, depositados por milhões de anos no fundo de lagos e mares, que foram soterrados. Aos poucos o petróleo, criado numa rocha geradora, foi migrando e se depositou em uma rocha reservatório impermeável, e se acumula naquela situação geológica.

O objetivo da prospecção do petróleo é identificar situações geológicas que localizem possíveis acumulações de rochas segmentares onde podem existir essas rochas reservatório. A exploração do petróleo se inicia pela prospecção, é confirmada pela perfuração, e então é feita a parte de completação, que é a preparação do poço; só depois inicia-se a produção.

A seguir, Valderio deu detalhes de todas as etapas, a partir da prospecção; como é feita a perfuração por meio de sondas, utilizando-se uma broca que funciona com fluido de perfuração. Depois, seguem-se as operações de completação, que envolvem a instalação de um conjunto de válvulas e equipamentos – estruturas denominadas de “árvores de natal”. Este conjunto de produção faz a drenagem da jazida de petróleo. Depois é preciso conectar o poço à plataforma produtora, que é diferente da plataforma que faz a perfuração. E por fim é colocada a terceira plataforma, responsável pelo processamento de produção. Na superfície é separado o gás natural, a água e o petróleo, e cada um tem um tratamento e um destino específico.

A seguir ele mostrou a sequência do tratamento do óleo produzido dentro da plataforma antes da operação de transferência para outra embarcação, que levará o óleo para a terra, onde se fará o refino. Nesta fase, a Química tem papel muito importante, destacou.

Refino e qualidade dos derivados de petróleo

 

A terceira palestra foi sobre Refino do Petróleo e Qualidade dos Derivados, com Guintar Luciano Baugis, Químico e especialista na área de refino de petróleo. Essa matriz energética, tal como existe, possui pouquíssimas aplicações comerciais, e são as refinarias que geram os produtos finais a partir do petróleo recebido dos campos de produção. Uma refinaria instalada requer um grande investimento e seu projeto deve atender a dois objetivos principais: adequar-se às características da matéria-prima obtida em determinado local, já que a qualidade da matéria-prima influencia a concepção do projeto; e atender à demanda de determinada região.

O parque de refino brasileiro tem unidades desde o Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, entre outras. Hoje, 88% do refino instalado no Brasil é promovido pela Petrobras, e 12% é feito por empresas particulares, como a refinaria de Mataripe.

Os derivados de petróleo podem ser divididos em energéticos e não energéticos; os energéticos são diesel, gasolina, óleo combustível e gás natural, e cerca de 10% são os derivados não-energéticos, como parafinas, asfalto, coque de petróleo. Guintar alertou que, embora o parque de refino brasileiro seja muito grande, ele não supre toda a demanda de derivados energéticos do Brasil e, por isso, ainda existe uma dependência da importação desses derivados energéticos, mesmo diante da possibilidade de descarbonização da matriz energética.

Ele mostrou as diferenças entre as refinarias: há as que produzem combustíveis, as que produzem matérias-primas petroquímicas, como eteno e propeno; há refinarias que visam à produção de parafinas e lubrificantes, como na Bahia e no Rio de Janeiro e, mais recentemente, há a concepção de unidades de refino para processar correntes renováveis, como óleos de recuperação de biomassa, por exemplo.

Em seguida, ele falou sobre os tipos de processos que ocorrem nas refinarias, como processos de separação, conversão, tratamento e os auxiliares, que fornecem insumos ou tratam efluentes. As refinarias brasileiras invariavelmente realizam três processos: destilação, craqueamento e hidrotratamento. Ele explicou o que é cada um desses processos e deu detalhes sobre as etapas e a sequência desses processos. A destilação, por exemplo, permite a obtenção do GLP, da nafta, do querosene de aviação, do óleo diesel a partir do petróleo. Já o craqueamento é o processo de refino para converter frações residuais de petróleo em produtos comercialmente mais nobres, como gasolina e GLP. O processo de hidrotratamento reduz os contaminantes por meio de reações dos hidrocarbonetos das frações de petróleo com hidrogênio.

Ao final, ele destacou o papel do Químico na atividade do refino de petróleo, como na caracterização do petróleo na etapa de exploração, no projeto de engenharia das refinarias de petróleo; e como apoio nas operações das refinarias, além da assistência técnica na aplicação e comercialização dos produtos.

A ANP e o incentivo à pesquisa, desenvolvimento e inovação

 

A última palestra foi com o Químico Euler Martins Lage, da Agência Nacional de Petróleo – ANP. Ele falou sobre a ANP e o incentivo à pesquisa, desenvolvimento e inovação. Lage explicou que uma agência reguladora funciona como uma intermediária entre governo, indústria e consumidores. Tem como características a responsabilidade por regular o mercado e também fiscalizar, além de dar apoio ao desenvolvimento e inovação.

Ele falou ainda sobre o Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas da ANP, em Brasília, laboratório que faz análises físico-químicas em petróleo, derivados e biocombustíveis e pesquisas na área de qualidade de produtos e discorreu sobre a estrutura disponível nesta unidade. A seguir, mostrou a estrutura de funcionamento da ANP e dados sobre a superintendência de fiscalização, que avalia produtos como biodiesel, etanol, gasolina, óleo diesel, querosene de aviação, óleos lubrificantes, óleos combustíveis e diesel marítimo, informando que os combustíveis brasileiros têm um dos menores índices de não-conformidades do mundo.

Ele informou que a ANP tem contratos com 29 universidades conveniadas e seus laboratórios desenvolvem pesquisas em petróleo e combustíveis. Atualmente a ANP mantém 18 projetos de pesquisas em desenvolvimento, como a caracterização e separação de biomarcadores de petróleo e frações. Euler citou ainda as 1040 unidades de pesquisas credenciadas junto à Agência que recebem recursos para pesquisas em inovação, incluindo as maiores universidades brasileiras. Dentre essas pesquisas estão combustíveis com menor pegada de carbono.

Ao final, os quatro palestrantes responderam às perguntas dos participantes. O seminário está disponível no canal do CRQ-IV/SP no YouTube. Clique aqui para assistir.

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