PFAS: os contaminantes emergentes no meio ambiente e na saúde pública
PFAS: os contaminantes emergentes no meio ambiente e na saúde pública
Live discutiu os desafios da regulação e remoção dessa substância considerada tóxica16 de outubro de 2024, às 14h50 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Na terça-feira, 15, o CRQ-IV/SP transmitiu uma live organizada pela Comissão Técnica de Meio Ambiente para discutir os “Conceitos, Ocorrências e Implicações dos PFAS”, um grupo de substâncias com potencial contaminante. A palestra foi conduzida pelo Químico Aluisio Soares, mestre e doutor em Química Ambiental, com pós-doutorado na ocorrência de PFAS em águas subterrâneas pela Universidade de São Paulo (USP). Soares é membro da Comissão Técnica de Meio Ambiente do CRQ-IV/SP e sócio da consultoria EVA Way Projetos Ambientais.
Os PFAS (substâncias per e polifluoroalquil) são compostos sintéticos, fabricados desde a década de 1930. Eles fazem parte do grupo dos contaminantes emergentes, assim como fármacos, hormônios, drogas psicotrópicas, pesticidas. Alguns desses contaminantes emergentes, como os PFAS, são considerados interferentes endócrinos e podem causar efeitos adversos – como câncer – após a exposição prolongada. Segundo Aluisio, a produção dos PFAS foi reduzida nos anos 2000, quando se descobriu os seus malefícios.
Antes disso, os PFAS foram amplamente utilizados durante a Segunda Guerra Mundial, no revestimento de equipamentos usados para testes atômicos. Após o fim da guerra, o composto ganhou popularidade no uso doméstico, especialmente em utensílios antiaderentes, como panelas revestidas com teflon, cujo princípio ativo é o perfluorooctanoico (PFOA), um dos PFAS mais conhecidos. Ele também pode estar presente em produtos como espumas antichamas, roupas impermeáveis, revestimentos para sofás e até cosméticos.
Os PFAS são formados por cadeias de átomos de carbono ligadas a átomos de flúor. A substituição de hidrogênios por flúor confere a esses compostos uma enorme estabilidade química, o que os torna extremamente resistentes e difíceis de serem quebrados pela natureza. Sua estrutura pode ser “per” ou “poli”, dependendo do nível de substituição por flúor, resultando em diferentes propriedades químicas e físicas, o que amplia ainda mais o seu uso em diversos setores industriais.
Um dos maiores exemplos de contaminação ao meio ambiente por PFAS ocorreu em bases militares dos Estados Unidos, onde a utilização de espumas antichamas resultou em áreas de solo e água subterrânea contaminadas. Estudos também já detectaram PFAS no sangue de ursos polares e em peixes. O palestrante fez referência ao filme “Dark Waters” (2019), que retrata o impacto ambiental da produção de teflon, ilustrando as consequências da exposição prolongada a esses compostos.
Apesar da crescente conscientização sobre os riscos dos PFAS, os métodos de análise e monitoramento desses compostos ainda são limitados. Os métodos analíticos atuais são capazes de quantificar apenas cerca de 40 PFAS, quando existem mais de 5 mil, o que representa um grande desafio. Além disso, muitos desses compostos são encontrados em concentrações extremamente baixas, na ordem de picogramas por litro, o que exige equipamentos de alta sensibilidade para detecção.
Com o avanço dos estudos, o uso do PFAS foi reduzido, mas esses materiais ainda circulam no País. “Provavelmente todos vocês devem ter algum produto em casa contendo PFAS”, disse Soares. No Brasil, a substância já foi encontrada em carnes, vegetais, água mineral, como resultado das contaminações ambientais. O palestrante explicou que técnicas como a osmose reversa, processos oxidativos avançados, uso de carvão ativado granular e resinas de troca iônica já são utilizados por empresas de tratamento de água no Brasil e exterior para remover os PFAS.
Soares afirma que o tema ainda representa um desafio, que envolve desde a falta de uma legislação nacional robusta, a busca por substitutos que não sejam prejudiciais ao meio ambiente e à saúde, e os riscos da exposição prolongada. Entretanto, existe um Projeto de Lei – PL 2726/2023 –, ainda em discussão fora do Plenário, que buscará instituir a política nacional de controle dos PFAS. A expectativa é que, com a aprovação de novos regulamentos, seja possível reduzir e controlar os impactos desses compostos no meio ambiente e na saúde pública.
O evento foi encerrado com uma rodada de perguntas feitas pelos participantes. A mediação foi realizada pela Química Dilcelli Soares Moura, especialista em Química Instrumental, Gestão de Qualidade, ensaios analíticos e amostragem de matrizes ambientais, e membro da Comissão Técnica de Meio Ambiente do CRQ-IV/SP. A apresentação foi feita pelo Químico Aislan Balza, coordenador das Comissões Técnicas do Conselho.
A gravação da live segue disponível no canal do Conselho no YouTube.