Metanol em bebidas – tudo o que você precisa saber
Metanol em bebidas – tudo o que você precisa saber
As fraudes em bebidas destiladas e as repercussões na saúde pública analisadas por especialistas6 de outubro de 2025, às 16h11 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos
A Comissão Técnica de Alimentos e Bebidas promoveu nesta segunda-feira, no canal do CRQ-SP no YouTube, uma live sobre o metanol. Em pauta, questões que afligem os brasileiros atualmente, como os tipos de bebidas alcoólicas sujeitas a fraudes, os testes para detecção do metanol e o papel do profissional da química na indústria de bebidas.
As instrutoras foram Renata Cerqueira, mestre em Toxicologia de Alimentos, e Aline Bortoletto, Pós-Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela USP/ESALQ. A mediação foi feita pela química Glauce Pereira.
A primeira palestrante foi a Dra. Aline Bortoletto, que falou das diferenças entre fraudes, falsificação e adulteração. Ela lembrou que mais de 30% das bebidas vendidas no país são fraudadas, e estas falsificações não têm responsável técnico atuando em seus processos de produção, nem qualquer controle de produção.
A seguir ela mostrou o Decreto 6871 de 2009, do Ministério da Agricultura, que diferencia adulteração e falsificação. A adulteração é a alteração proposital da bebida, e a falsificação é a reprodução enganosa da bebida, usando marcas legalizadas no mercado. Alertou que as bebidas fraudadas estão totalmente fora da padronização, e isto configura um crime.
Dra. Aline explicou que as bebidas destiladas são mais fáceis de adulterar, até porque contêm mais álcool no produto, mas também é possível falsificar vinhos e cervejas. Explicou como se dá o processo de produção das bebidas, como a fermentação e a destilação, e informou que o metanol pode ser produzido naturalmente durante esses processos, mas em proporção muito baixa, que não causa mal à saúde.
Disse que trabalhou dez anos em laboratório de análises de bebidas alcoólicas e nunca encontrou uma bebida produzida legalmente que tenha superado o limite de metanol estabelecido pela legislação.
Informou que até hoje analisa bebidas suspeitas de adulteração, e que as fraudes são realizadas principalmente em bebidas mais populares, como vodka, gim, tequila e uísque. Em vinhos e espumantes há menos adulteração, normalmente por diluição ou troca de produtos na fase de produção, e em cervejas há pouca adulteração. Ela também citou licores e bebidas doces, que recebem ingredientes não permitidos e produtos não legalizados. Citou também a produção de cachaças ilegais, muito comum no Brasil, sendo este um dos maiores problemas do setor.
“O consumidor também tem que fazer a parte dele: não comprar um produto sem registro no Ministério da Agricultura”
Listou o que o consumidor tem que observar na garrafa de bebida: se o lacre não foi violado, olhar o bico dosador, checar a impressão do rótulo e se o rótulo não descola quando a garrafa é colocada em um balde com gelo; além disso, o selo do MAPA e da Receita Federal tem que estar no rótulo.
A partir desses casos criminosos de adulteração de bebidas com metanol, ela diz que o momento é de decisão: “Agora vamos virar a chave, e teremos o consumidor fiscalizando também esses aspectos, auxiliando este mercado contra a ilegalidade e a falsificação”.
Dra. Aline disse que quando trabalhava com análise de bebidas alcoólicas encontrava principalmente álcool de qualidade inferior, extratos, essências e corantes para simular uma bebida melhor. “Quando o consumidor conhece a bebida ele consegue identificar essas fraudes, mas numa festa, quando a bebida é misturada com outras, como energéticos, refrigerantes, gelo, fica muito difícil perceber a alteração”.
Enumerou os pontos de erro na produção de bebidas alcoólicas, quando pode ocorrer contaminação nas matérias-primas, e erros nas fases de fermentação e destilação e no restante da cadeia produtiva, como o envelhecimento, envase e distribuição.
Chamou a atenção para a importância da rastreabilidade, um sistema que o produtor tem que controlar, e falou sobre métodos de detecção de metanol, como a cromatografia gasosa, que precisa ser feito em laboratório específico. Disse que algumas universidades estão desenvolvendo métodos rápidos, mas hoje não existem no mercado brasileiro métodos validados para detecção rápida do metanol em bebidas alcoólicas.
Na sequência, a especialista em segurança de alimentos, Renata Cerqueira, trouxe dados de uma reportagem publicada na imprensa em abril mostrando que quase 36% das bebidas alcoólicas vendidas no país são fraudadas, resultando em prejuízos de 88 bilhões de reais, além de sérios problemas de saúde e mortes.
Ela explicou as características do metanol, que traz riscos à saúde quando ingerido, como náuseas, tontura, cegueira e morte, e que cada organismo vai agir de maneira diferente. A qualquer sintoma deve-se procurar ajuda médica, alertou.
O metanol é um produto inflamável e pequenas quantidades já podem causar problemas. Explicou os impactos do metanol no organismo, e alertou que o metanol vai se degradar em compostos muito tóxicos, causando confusão mental, danos ao nervo óptico, cegueira, coma e até a morte por falência múltipla de órgãos, tudo influenciado pelo quantidade consumida e a depender do organismo de cada pessoa.
Falou sobre as análises que podem ser feitas em laboratórios, abordou as normas técnicas de controle de qualidade, como análises físico-químicas e microbiológicas, e a detecção de contaminantes. Disse que o consumidor precisa ficar atento a preços muito baixos das bebidas e deve checar lacres e rótulos, e principalmente, procurar ajuda médica se apresentar sintomas estranhos.
Renata Cerqueira explicou como os profissionais da química podem ingressar na indústria de bebidas, e como esses profissionais têm um trabalho muito importante nesse momento, de desmistificar informações e garantir a qualidade dos produtos.
Ao final da live as duas especialistas responderam às perguntas dos participantes. A live está disponível em https://www.youtube.caom/watch?v=rUdv950iuso.