O elemento superpesado que dura apenas segundos

O hássio é um elemento químico sólido a 25 °C, obtido artificialmente, com símbolo Hs, número atômico 108 e massa atômica 265 u. É metálico, pertencente à classe dos metais de transição, de cor branco-prateada, localizado no grupo 8 e no período 7 da Tabela Periódica.

É um transactinídeo que oxida de forma semelhante ao ósmio, situado acima dele na tabela periódica.

A densidade e os pontos de fusão e ebulição são desconhecidos. Ele é classificado como um metal sólido à temperatura ambiente. É radioativo e produzido artificialmente.

Apenas uma mínima quantidade de hássio já foi produzida até hoje, e o elemento não tem utilização fora da pesquisa científica.

Características

Seu decaimento em partículas alfa é extremamente rápido — em segundos —, impossibilitando a obtenção de dados muito precisos sobre este metal.

As primeiras amostras foram obtidas a partir de reações nucleares envolvendo a fusão de um isótopo de chumbo, ²⁰⁸Pb, com ferro, ⁵⁸Fe.

Este elemento não apresenta aplicações práticas e desconhecem-se as suas reações com ar, água, halogêneos, ácidos e bases.

Uma equipe de pesquisadores conseguiu produzir, na cidade de Darmstadt, Alemanha, cerca de seis átomos de Hs com meia-vida aproximada de 10 segundos. Embora seja pouco, foi suficiente para confirmar que o óxido de hássio (HsO₄) possui grandes semelhanças com os óxidos dos elementos mais leves do grupo 8: óxido de rutênio (RuO₄) e óxido de ósmio (OsO₄).

Isótopos

Existem inúmeras pesquisas sobre a quantidade conhecida de isótopos de hássio, e destacam-se alguns principais, com massa variando de 263 u a 270 u.

O isótopo mais estável do hássio, ²⁷⁰Hs, foi descoberto por um grupo internacional de cientistas da Universidade Técnica de Munique, em dezembro de 2006. É um isótopo com meia-vida de 22 segundos. A existência desses isótopos relativamente pesados e estáveis já havia sido prevista, com algumas teorias sugerindo que o ²⁷⁰Hs poderia ser parte de uma chamada “ilha de estabilidade”. O isótopo ²⁷⁰Hs decai em seabórgio-266 (²⁶⁶Sg) por decaimento alfa.

Obtenção

A produção dos elementos químicos conhecidos como transactinídeos é muito difícil. São necessários equipamentos de alta tecnologia, como aceleradores de partículas. Nestes, espécies iônicas colidem com elementos de alta massa atômica para formarem os elementos superpesados, nos quais o Hs está incluído.

No caso do hássio, os estudos que permitiram confirmar sua posição no grupo 8 da Tabela Periódica envolveram a produção por meio do bombardeamento de magnésio-26 (²⁶Mg), tendo o cúrio-248 (²⁴⁸Cm) como alvo.

Os experimentos envolvendo esses elementos são caros, e, por isso, é comum que estudos teóricos sejam feitos para calcular e prever propriedades químicas. O baixo tempo de meia-vida é outro fator que dificulta a obtenção de mais informações.

As técnicas experimentais de separação e detecção devem ser muito rápidas para que resultados sejam produzidos com êxito. Soma-se, ainda, o rendimento reacional desses elementos ser muito baixo, em torno de poucas unidades de átomos.

História

A primeira tentativa de sintetizar o elemento 108 ocorreu em 1978 na Rússia, no Instituto Central de Pesquisas Nucleares de Dubna, onde um grupo liderado por Yuri Oganessian e Vladimir Utyonkov bombardeou rádio com cálcio e obteve o isótopo 270. Em 1983 eles obtiveram outros 3 isótopos: ao bombardear bismuto com manganês obtiveram o isótopo 263; ao bombardear califórnio com neônio obtiveram o isótopo 270; e ao bombardear chumbo com ferro obtiveram o isótopo 264.

Em 1984, no Instituto de Pesquisas de Íons Pesados em Darmstadt, na Alemanha, um grupo liderado por Peter Armsbruster e Gottfried Münzenberg bombardeou chumbo com ferro em um acelerador linear e sintetizou o isótopo 265, com meia-vida de cerca de 2 milissegundos (0,002 s), liberando um nêutron livre. Seus dados foram considerados mais confiáveis que os do grupo russo, e por isso eles tiveram autorização para dar nome ao elemento. Decidiram dar o nome de hassium ao novo elemento, o termo latino para Hesse, o estado alemão onde se situa o centro de pesquisas.

Houve uma controvérsia a respeito do nome do novo elemento, bem como dos elementos 101 a 109; a União Internacional de Química Pura e Aplicada – IUPAC – então adotou o nome temporário de unniloctium, e símbolo Uno, para o elemento 108. Em 1994, o comitê da IUPAC recomendou que o elemento 108 fosse denominado hahnium. O nome hássio só foi adotado internacionalmente em 1997, quando a IUPAC mudou de ideia novamente.

Poucos centros de pesquisa possuem equipamentos apropriados para fazer estes elementos superpesados, e aconteceu de mais de uma instituição anunciar ter sido a primeira a sintetizar um elemento, e assim reclamar o direito de escolher seu nome. Isto gerou disputas de prioridade e nomeação. Por essa razão, alguns elementos chegaram a ter mais de um nome em diferentes países, como aconteceu com o hássio.

Referências

The Element Hassium. Disponível em https://education.jlab.org/itselemental/ele108.html. Acesso em 20/05/2025.

Hassium. Disponível em https://periodic-table.rsc.org/element/108/hassium. Acesso em 20/05/2025.

Hassium. Disponível em  https://www.chemeurope.com/en/encyclopedia/Hassium. Acesso em 20/05/2025.

ATKINS, P. W. Shriver & Atkins química inorgânica. BOOKMAN, 2008.

EMSLEY, J. Nature’s Building Blocks: An AZ Guide to the Elements , Oxford University Press, Nova York, 2ª edição, 2011.

HAYNES, W. M., ed., CRC Handbook of Chemistry and Physics , CRC Press/Taylor and Francis, Boca Raton, FL, 97ª edição, versão da Internet de 2015, acessado em maio de 2025.

Texto produzido pela jornalista Mari Menda da Gerência de Relações Institucionais
do CRQ-SP e revisado pela Profa. Márcia Guekezian, Coordenadora do curso
de Engenharia Química da Faculdade de São Bernardo do Campo – FASB