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Acesso em 26/12/2024 às 17h08.

Fórum de Recursos Hídricos apresentou desafios e discutiu soluções

Fórum de Recursos Hídricos apresentou desafios e discutiu soluções

Processo de despoluição do Rio Pinheiros foi um dos temas explorados

21 de setembro de 2023, às 14h12 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

Promovido pela Comissão Técnica de Meio Ambiente do CRQ-IV/SP, o XI Fórum de Recursos Hídricos ocorreu nesta quarta-feira, 20, para tratar sobre os desafios e soluções na gestão hídrica, em especial no Estado de São Paulo. Estiveram em pauta o uso de tecnologias emergentes e ações voltadas equilibrar progresso e sustentabilidade.

A primeira palestrante foi a Superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), Mara Regina Samensatto. “Quando falamos de recursos hídricos não dá para não falar dos riscos dos desastres naturais e eventos climáticos extremos, da falha na mitigação das mudanças climáticas, dos incidentes com danos ambientais em larga escala, da dificuldade de implementação de planos de adaptação e das crises de recursos naturais. Todos esses riscos de curto prazo, pensados para os próximos dois anos, estão no nosso radar, e todos os atores responsáveis por recursos hídricos devem estar atento a esses riscos globais”, disse.

Segundo Samensatto, os órgãos gestores precisam atuar com foco tanto no excesso quanto na escassez de água. Ela apresentou alguns gráficos (disponibilizados no Plano Estadual de Recursos Hídricos) que são utilizados como base para o planejamento e tomada de decisão, e que indicam, por exemplo, a qualidade e quantidade de água nos reservatórios públicos.

Desafios na visão do DAEE – Um dos desafios atuais, pontuado pela superintendente, são os efeitos do El Niño, que repercute de formas diversas em cada região do país, com aumento do calor na região Sudeste, por exemplo. Problemas sociais, o uso crescente da demanda de recursos hídricos e o novo Marco do Saneamento também foram ressaltados como pontos desafiadores.

 

Superintendente do DEAA expôs os desafios na gestão hídrica do Estado de São Paulo

 

Como parte da solução, o DAEE criou o Pacto Pela Governança da Água, assinado com a Agência Nacional de Águas, com ações voltadas para o fortalecimento da regulação. Também foram criadas duas diretorias, a de Regulação e Fiscalização e a de Governança e Integridade. Quatro programas estão sendo trabalhados em conjunto com os municípios: o Programa de Segurança Hídrica e Uso Racional; o Programa Rios Vivos, voltado para a recuperação dos rios; o Programa de Saneamento, voltado para o desenvolvimento de projetos de drenagem, criação de infraestrutura para abastecimento de água e esgotamento sanitário; e por fim o Programa de Consultoria Técnica e Capacitação Externa.

Despoluição do Rio Pinheiros – “Rios Urbanos – Case Rio Pinheiros – Tecnologia e Inovação” foi a segunda temática abordada no encontro. O tema foi discutido pelo Superintendente de Gestão de Empreendimentos da Sabesp, Marco Antonio Lopez Barros, que responde pela implantação das Unidades Recuperadoras no Projeto Novo Pinheiros.

O Rio Pinheiros é um rio totalmente urbano, localizado dentro de uma metrópole adensada, e com característica hidráulica semelhante a um lago – ele apresenta baixa velocidade, o que prejudica a sua autodepuração. Somado a isso, há questões de deficiência na coleta de resíduos sólidos e na educação ambiental da população.

 

Despoluição do Rio Pinheiros apresenta inúmeros desafios

 

Para contornar a situação, uma série de medidas vêm sendo adotadas. Uma delas é a execução de obras em áreas que são habitadas de modo desordenado, com lançamentos irregulares nos córregos e sem viabilidade técnica para atender com métodos tradicionais. Nesses casos, foram criadas redes de coleta capazes de capturar os detritos e esgotos despejados incorretamente e conduzi-los até as estações de tratamento, evitando que entrem em contato com o Rio Pinheiros.

Também foram feitas instalações dos chamados Poços de Visitas de Tempo Seco, que permitem capturar os córregos para fazer o saneamento. Eles foram instalados ao longo das bacias e sub-bacias do Rio Pinheiros para capturar o máximo de vazão para tratamento.

Mas segundo Barros, apesar dos esforços, ainda há esgoto não coletável sendo despejado nos córregos afluentes do rio, o que levou a criação de cinco Unidades de Recuperação (URs), que permitem o tratamento de 500 litros por segundo de esgoto. Essas URs estão em operação desde setembro de 2022 e a ideia é que, com o avanço do sistema de esgotamento sanitário, elas sejam desmobilizadas e os seus equipamentos sejam reaproveitados em outras bacias do estado.

Ele falou ainda sobre o uso experimental de uma tecnologia de injeção de oxigênio nas águas do rio, com o objetivo de contribuir para a sua auto recuperação. Segundo Marco, os resultados têm sido promissores. Por fim, ele conta que foram desenvolvidas ações de integração com as comunidades no entorno dos córregos, com foco na conscientização e mobilização da população quanto a preservação dos rios.

Avanços e retrocessos – O último palestrante do fórum foi o Engenheiro Químico José Antônio Monteiro Ferreira, que é responsável por mais de 260 estações de tratamento de água e esgoto. Ele falou sobre o tema “Marco Regulatório, avanços e retrocessos”.

Ferreira apresentou um levantamento feito pela XP Investimentos, que mostra que seriam necessários 400 bilhões de reais para que 90% dos esgotos estejam tratados até 2033. Ele lembrou ainda as promessas feitas na última COP26 que prevê a redução de 30% de metano até 2030 e zerar o desmatamento até 2028 para evitar que a temperatura aumente 1,5°. Na sua visão, as metas são audaciosas e difíceis de serem alcançadas.

O especialista abordou ainda o funcionamento das Estações de Tratamento de Esgoto, por processo aeróbico e anaeróbico. Segundo ele, na inciativa privada têm-se trabalhado muito com estações de tratamento de esgoto com reuso de água e esse deverá ser o caminho adotado também na iniciativa pública.

Ele citou como exemplo a estação de tratamento implantada no parque Skyglass, em Canela (RS), onde são utilizados processos de tratamento biológico com lodo ativado e depois tratamento de efluente por processo físico-químico. A água tratada é reutilizada em descargas de privadas e na irrigação.

Um dos problemas mencionados pelo especialista é o aumento constante da presença de detergente sintéticos que chegam nas estações de tratamento, com compostos muito difíceis de serem degradados. “É um problema que vem se alastrando Brasil afora”, alertou.

 

Presença de detergentes sintéticos é problema crescente nas estações de tratamento

 

O encontro foi mediado pelo especialista em Engenharia Ambiental Ricardo Crepaldi, que é vice-presidente da Subseção Centro Paulista e coordenador da Câmara Técnica de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo (Abes-SP), além de membro da Comissão Técnica de Meio Ambiente do CRQ-SP.

No término das apresentações, os palestrantes responderam aos questionamentos dos participantes e fizeram suas considerações finais.

A gravação do XI Fórum de Recursos Hídricos segue disponível no canal do Conselho no YouTube. Clique aqui para assistir.

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