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Acesso em 30/10/2024 às 04h23.

Filme mostra tragédia causada por contaminação por chumbo em Bauru

Filme mostra tragédia causada por contaminação por chumbo em Bauru

Documentário relata o drama das famílias atingidas pelas emissões irregulares feitas pela indústria de baterias Ajax

20 de março de 2024, às 15h57 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

Imagem: Divulgação

 

Estreia amanhã, 21/03, às 19h, no auditório Rosângela Vella, em Bauru (SP), o documentário “Marcas do Chumbo: o caso do menino David”. Baseado em livro de título quase homônimo, chamado “Marcas do Chumbo a História do Menino David”, escrito por Diva Fernandes, amiga da família do garoto, o documentário dirigido pelo produtor visual Leandro Ferrari, tira do esquecimento um desastre ambiental que começou a ser noticiado pela mídia em 2002, mas que começou muitos anos antes, causado pela falta de observância da empresa das normas ambientais já vigentes naquela época.

Além dos trabalhadores da própria Ajax, que possuía duas unidades fabris na cidade, estima-se que mais de 800 crianças, moradoras nas proximidades da fábrica instalada numa área residencial, foram contaminadas por elevados níveis de gases e resíduos contendo chumbo e outros metais pesados. Esses poluentes eram expelidos pelas chaminés da indústria, sendo seus resíduos depositados nas ruas, casas, escolas e terrenos da região.

O menino David nasceu em 1992 com ótima saúde, segundo sua família. Contudo, os sintomas de contaminação por metais pesados começaram nos primeiros meses de vida, quadro que se agravou com o passar dos anos por conta da falta de um diagnóstico inicial rápido.

David e sua mãe, Elizete

Devido ao aumento de casos como o de David na rede pública, a Secretaria da Saúde da cidade resolveu fazer um estudo para descobrir as causas, recorrendo para isso ao Hospital das Clínicas de Botucatu.  Já se desconfiava que a contaminação poderia estar sendo causada pela Ajax, por isso as autoridades locais estabeleceram um perímetro no entorno da fábrica e todas as crianças residentes naquela área foram incluídas no estudo. Essa providência permitiu que muitas tivessem os efeitos da contaminação reduzidos.

Como a família de David morava fora do perímetro, ele não foi incluído no estudo, o que contribuiu para o agravamento de seu estado de saúde. Anos mais tarde, porém, conseguiu-se provar judicialmente que o menino foi uma das vítimas do descaso da Ajax. Hoje, aos 32 anos de idade, David é totalmente dependente dos pais, pois além das sequelas graves decorrentes da contaminação – como convulsões, problemas gastrointestinais, diarreias agudas e dores no corpo – seu desenvolvimento intelectual foi gravemente comprometido, impedindo que se alfabetizasse, conta Leandro Ferrari, diretor do documentário.

Em declarações públicas e para a mídia, a Ajax se comprometeu a auxiliar as vítimas dos danos que causou. “Mas efetivamente isso nunca aconteceu, já que a empresa teve suas atividades interrompidas por questões ambientais e depois de receber diversas ações trabalhistas pediu falência e nem os funcionários e nem vítimas foram indenizados”, relata Ferrari.

Ferrari, diretor do documentário

Sem datas definidas, o documentário deverá ter mais cinco exibições em Bauru e depois poderá participar de festivais nacionais e internacionais. A mostra em entidades ligadas ao meio ambiente também poderá ocorrer. Nossa expectativa com esse trabalho “é não deixar que fatos assim caiam no esquecimento. Que as novas gerações tenham ciência dos fatos, que fiquem em alerta” e reflitam sobre a importância do desenvolvimento responsável e sustentável, finaliza Leonardo Ferrari.

Parcialmente financiado pela Secretaria de Cultura de Bauru, o documentário conta com depoimentos de diversas autoridades e técnicos que trabalharam no caso. Entre eles está o Bacharel em Química Ricardo Crepaldi, que além de experiência internacional em questões de sustentabilidade é integrante de comissões técnicas do CRQ-IV.

 

Fiscalização – O CRQ-IV tomou conhecimento do caso quando a imprensa começou a noticiá-lo, em 2002. “Nenhum órgão público ou mesmo moradores afetados solicitaram o nosso apoio nesse caso; mesmo assim, tomamos a iniciativa de convocar o Responsável Técnico para prestar esclarecimentos”, explica o hoje superintendente Wagner Contrera Lopes, então gerente de Fiscalização do Conselho.

Ocorre que na época, a Ajax tinha apenas uma unidade – a instalada na zona industrial de Bauru – registrada no Conselho. Seu Responsável Técnico foi convocado para prestar esclarecimentos, afirmou que a sua unidade estava funcionando de acordo com as normas ambientais (o que foi confirmado pelo Conselho), razão pela qual não foram encontrados elementos para penalizá-lo. Não foi possível tomar providências quanto à unidade localizada na zona residencial, pois esta já havia sido fechada, impedindo que o Conselho a fiscalizasse.

Clique aqui para assistir a um trailer do docmentário.

 

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