Marca do CRQ para impressão
Disponível em <https://crqsp.org.br/elementos-quimicos-litio/>.
Acesso em 21/11/2024 às 09h45.

Elementos Químicos – Lítio

Elementos Químicos – Lítio

Banner Química Viva

O ouro do século XXI
por Vera Regina Leopoldo Constantino

 

Salar do Atacama, no Chile, abriga uma das maiores reservas do metal no planeta. Foto: ravelCoffeeBook por Pixabay

 

O lítio é um elemento químico de destaque no noticiário atual. Ele é chamado de “ouro do século XXI”, “ouro branco” ou ainda de “petróleo branco”. Para entender o porquê, basta lembrar que vários produtos necessitam do lítio para o seu funcionamento: telefones celulares, notebooks, tablets, além de bicicletas e carros elétricos. O lítio tem um papel central nas baterias recarregáveis (baterias de íon-lítio), comercializadas a partir dos anos 1990, e em baterias não recarregáveis usadas em marca-passos e relógios.

Considerando que a sociedade atual mantém uma alta demanda por produtos tecnológicos, é possível entender as razões para que o lítio seja comparado ao ouro e ao petróleo. Uma delas é o potencial de o motor elétrico substituir o motor a combustão, que faz uso de derivados de petróleo. Por isso, o lítio é chamado de “petróleo branco” (a cor é uma referência aos compostos de lítio dos quais o elemento é extraído, que geralmente são brancos).

O lítio (do grego “lithos”, que significa “pedra”) foi identificado pela primeira vez em 1817, na Suécia, por Johan August Arfwedson. O elemento foi encontrado em uma amostra do mineral petalita (LiAlSi4O10), que foi descoberto no mesmo país, em 1800, pelo brasileiro José Bonifácio de Andrada e Silva. Conhecido por sua atuação política como o “Patriarca da Independência”, ele também realizou pesquisas na área de mineralogia e trabalhou com Antoine Laurent Lavoisier, considerado o pai da Química moderna.

Logo após a sua descoberta, o lítio também foi identificado em outros minerais e na água do mar. Atualmente, o elemento é extraído principalmente de duas fontes: minerais como espodumênio (silicato de alumínio e lítio, também descoberto por José Bonifácio) e petalita, e das salmouras de alguns lagos. Com a demanda crescente, explora-se também a extração do íon metálico a partir de certas argilas (como as hectoritas).

Segundo dados de 2015 do Departamento Nacional de Produção Mineral), as maiores reservas de lítio do planeta estão no Chile (47,9%), na China (20,4%), na Argentina (13,9%) e na Austrália (10,4%). A Austrália e o Chile respondem por aproximadamente 41 e 36% da produção mundial de lítio, respectivamente, enquanto o Brasil produz 0,9%.

Na América do Sul, além do Chile e da Argentina, a Bolívia também possui quantidades significativas de lítio, tendo possivelmente a maior reserva do mundo em um lago seco de 10 mil quilômetros quadrados de extensão. Contudo, a quantidade precisa de lítio ali presente ainda não é conhecida.

Aproximadamente 35% da produção mundial de lítio é empregada na área de baterias para equipamentos eletrônicos e veículos híbridos. A demanda é crescente, assim como o preço das fontes naturais das quais o elemento é extraído. Além do emprego em baterias, o lítio é usado nas indústrias de cerâmica e vidro na forma de hidróxido, e em graxas e lubrificantes como sal de estearato. Uma parte menor da produção é direcionada para a obtenção de medicamentos. Um exemplo é o carbonato de lítio, prescrito para o tratamento de transtorno bipolar.

O lítio na forma metálica é obtido por eletrólise do sal de cloreto fundido. É o primeiro metal da Tabela Periódica e o mais leve entre todos (possui a metade do valor da densidade da água). Na forma metálica, reage rigorosamente com a água. Quando adicionado em pequenas quantidades ao alumínio, forma ligas metálicas leves e resistentes usadas em aeronaves, bicicletas e trens de alta velocidade.

O lítio também tem emprego na área nuclear e, por essa razão, o processamento e a comercialização de minerais e minérios desse elemento, bem como seus compostos – lítio metálico e ligas metálicas -, são supervisionados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear.

 

Referências

 

*Docente do Instituto de Química da USP
Publicado em  15/01/2019

 

Compartilhar