Marca do CRQ para impressão
Disponível em <https://crqsp.org.br/elemento-quimico-hafnio/>.
Acesso em 22/02/2025 às 12h43.

Elemento Químico – Háfnio

Elemento Químico – Háfnio

6 de fevereiro de 2025, às 16h02 - Tempo de leitura aproximado: 9 minutos

Háfnio, super resistente

 

Háfnio puro. Janes St John, VisualHunt

 

O háfnio é um metal de transição prateado, dúctil, brilhante, que tem símbolo Hf e número atômico 72. Pertence ao Grupo 4 da tabela periódica. Se a pureza do háfnio for alta, ele é relativamente macio e flexível, mas se houver traços de oxigênio, nitrogênio ou carbono no material, ele se torna quebradiço e difícil de processar. Resiste à corrosão devido ao filme de óxido formado, mas na forma de pó, inflama no ar. Não é afetado por bases e nem por ácidos (exceto pelo ácido fluorídrico, HF). Ele não existe como elemento isolado na natureza e quimicamente é muito semelhante ao zircônio. Estima-se que o háfnio constitua apenas 0,00058% da crosta terrestre.

 

Cristais de zircão podem conter até 5% de háfnio. Martin Heigan-VisualHunt

 

Os minerais que contêm compostos de zircônio, como alvita [(Hf, Th, Zr)SiO4 H2O], thortveitita (Sc2Si2O7) e zircão (ZrSiO4) normalmente contêm entre 1% e 5% de háfnio. Háfnio e zircônio têm grande semelhança química, o que torna muito difícil separá-los. Cerca de metade do háfnio metálico produzido é obtido como subproduto do processo de purificação do zircônio. Isto é feito pela redução do cloreto de háfnio(IV) com magnésio ou sódio pelo processo Kroll.

O háfnio é um metal dúctil, resistente à corrosão e pode ser transformado em fios. As propriedades físicas do háfnio são marcadamente influenciadas pela presença de impurezas do zircônio. De todos os elementos químicos, zircônio e háfnio estão entre os mais difíceis de separar. Uma grande diferença física entre eles é a densidade – o zircônio possui metade da densidade do háfnio – mas quimicamente os dois são similares. Háfnio extremamente puro é produzido quando zircônio é a principal impureza.

 

Características

Há um total de 35 isótopos e 18 isômeros nucleares de háfnio 153Hf para 188Hf conhecido. O háfnio natural é um elemento misto que consiste em um total de seis isótopos diferentes. O isótopo do háfnio mais comum no meio ambiente aparece com uma frequência de 35,08% 180Hf; segue-se o 178Hf com 27,28%, 177Hf com 18,61%, 179Hf com 13,62%, 176Hf com 5,27% e 174Hf a 0,16%. Como o único isótopo natural é 174Hf fracamente radioativo, é um emissor alfa com meia-vida de 2 x 1015 anos, ou 2 quatrilhões de anos. Os isótopos 177Hf e 179Hf podem ser detectados com o auxílio de espectroscopia de Ressonância Magnética Nuclear (RMN).

O carboneto ou carbeto de háfnio (HfC) é  um composto altamente refratário e tem ponto de fusão em torno de 3.890°C. O nitreto de háfnio (HfN) é o mais refratário de todos os nitretos metálicos conhecidos, com ponto de fusão em 3.310°C. Outros compostos de háfnio incluem o cloreto de háfnio (HfCl4), fluoreto de háfnio (HfF4) e óxido de háfnio (HfO2).A 700°C o háfnio absorve rapidamente o hidrogênio.

O háfnio é resistente a álcalis concentrados, mas em temperaturas elevadas reage com oxigênio, nitrogênio, carbono, boro, enxofre e silício. Halogênios reagem diretamente para formar tetra-haletos.

É preciso ter cuidado ao usinar o háfnio porque, assim como seu metal irmão zircônio, quando é dividido em partículas finas pode inflamar-se espontaneamente no ar. O metal puro não é considerado tóxico, mas os compostos de háfnio devem ser manuseados como se fossem tóxicos, pois as formas iônicas dos metais normalmente têm maior risco de toxicidade.

 

Aplicações

Foguetes contêm peças contendo háfnio por sua excepcional resistência. Nasa

 

A propriedade física mais notável do háfnio é a alta capacidade de absorver nêutrons, e por isso é usado para a produção de barras de controle em reatores nucleares. Estas barras ajudam a manter o processo de fissão sob controle, garantindo que o reator permaneça seguro e estável. Barras de controle de háfnio também são utilizadas em submarinos nucleares.

Na indústria aeroespacial e no setor de defesa, a propriedade do háfnio de suportar calor extremo e permanecer estável mesmo sob pressão é altamente valorizada, e por isso o metal é utilizado em motores de jatos, partes de foguetes e mesmo em ferramentas de corte.

O háfnio também é utilizado em superligas à base de níquel e cerâmicas de alta temperatura.

O háfnio é utilizado em tubos a vácuo para remoção de gases residuais desses tubos. Também é aplicado em lâmpadas a gás e incandescentes, para captação de oxigênio e nitrogênio; em ligas com ferro, titânio, nióbio, tântalo e outros metais, para ampliar sua força e resistência ao calor e à corrosão. Catalisadores de háfnio têm sido usados ​​em reações de polimerização

O óxido de háfnio (HfO2) é um material chave na produção de aparelhos eletrônicos modernos. É utilizado em transistores empregados em dispositivos como smartphones e computadores, para serem mais rápidos e mais eficientes.

 

Preços em alta

Amostras de zirconita de onde o háfnio é extraído. James St John. VisualHunt

 

Na crosta terrestre, o zircônio ocorre normalmente associado ao háfnio, na proporção de 50 para 1 e é muito difícil separá-los. A principal fonte de zircônio é a zirconita, que também é conhecida como zircão, um ortossilicato tetragonal de zircônio (ZrSiO4) com composição aproximada de 67,2% de ZrO2 e 32,8% de SiO2, cuja apresentação pode variar nas cores marrom, verde, azul, vermelho, amarelo e incolor. Pode conter Hf, Fe, Ca, Na e Mn, entre outros elementos.

A zirconita ocorre, em geral, associada a rochas ígneas, como granito, granodiorito, monzonito, sienito e nefelina-sienito, sendo menos frequente nas rochas metamórficas, como gnaisses e xistos. Como a zirconita é um mineral de relativa estabilidade química e resistência à erosão, é frequentemente encontrada nos sedimentos.

A quantidade de Hf usualmente no zircão varia de 1 a 4%, mas já foram encontrados teores de até 24% de HfO2, sendo denominado de hafnão.

O metal háfnio é produzido como um subproduto do metal zircônio. A oferta restrita combinada com a demanda crescente por háfnio em ligas aeroespaciais e eletrônicos resultou em um aumento sem precedentes nos preços do háfnio, que subiram em torno de 400% nos últimos anos devido à grande demanda. Em dezembro de 2024 o quilo de háfnio teve cotação em torno de 4.500 dólares.

Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos, não existem dados disponíveis a respeito da produção de háfnio, nem sobre suas reservas no planeta. As maiores reservas de zircônio, mineral sempre associado ao háfnio, encontram-se na Austrália, China, Moçambique e África do Sul, e a produção de zircônio em 2023 foi de 1 milhão e 600 mil toneladas, segundo o órgão.

No Brasil há poucas informações atualizadas sobre a produção de zircônio e háfnio. Um informe de 2012 da Agência Nacional de Mineração revelou que os depósitos de minério de zircônio no Brasil estão associados aos minerais pesados de titânio, como a ilmenita (FeTiO3) e o rutilo (TiO2), e de estanho (cassiterita, SnO2). Depósitos e reservas encontram-se nos estados do Amazonas, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Paraíba e, de forma menos expressiva, nos estados de Tocantins e Bahia.

 

História

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os descobridores do háfnio: a partir da esquerda: Niels Bohr, Dirk Coster e George von Hevesy. Fundação Nobel; Wikimedia Commons

 

A descoberta do háfnio foi um dos episódios mais controversos da química. Desde que Mendeleev anunciou sua tabela periódica em 1869 havia uma lacuna entre os elementos 71, lutécio, e 73, tântalo, e para complicar, por estar entre os limites das terras raras e dos metais de transição, o elemento que faltava poderia pertencer a um desses grupos. Muitos químicos pesquisaram os minerais com terras raras, e em 1911, o químico francês e autoridade em terras raras Georges Urbain anunciou que havia isolado o elemento de número atômico 72. Ele analisou uma amostra de resíduos de terras raras, e chamou de céltio o elemento que supostamente descobrira. Urbain estava errado.

Alguns anos depois, o físico dinamarquês Niels Bohr previu as propriedades do háfnio usando sua teoria da configuração eletrônica dos elementos. Bohr argumentou que o háfnio não seria um elemento de terras raras, mas poderia ser encontrado no minério de zircônio. Em 1923 o háfnio foi descoberto pelos químicos Dirk Coster e George von Hevesy quando trabalhavam no Instituto de Bohr, na Universidade de Copenhague.

 

 

O háfnio metálico foi obtido pela primeira vez por Anton Eduard van Arkel e Jan Henfrik de Boer passando o vapor do tetraiodeto sobre um filamento de tungstênio aquecido.

Eles usaram um método conhecido como espectroscopia de raios X para estudar o arranjo dos elétrons externos dos átomos em amostras de minério de zircônio. A estrutura eletrônica do háfnio, prevista por Niels Bohr, finalmente havia sido encontrada, o elemento 72 ganhou o nome de háfnio, que deriva de Hafnia, o nome latino para Copenhagen.

 

Referências

Hafniun. Disponível em  https://www.chemeurope.com/en/encyclopedia/Hafnium.html. Acesso em 10/12/2024.

Hafnium. Disponível em https://www.rsc.org/periodic-table/element/72/hafnium . Acesso em 10/12/2024.

Hafnium. Disponível em https://periodic.lanl.gov/72.shtml. Acesso em 10/12/2024

Zirconium and Hafnium Statistics and Information. Disponível em https://www.usgs.gov/centers/national-minerals-information-center/zirconium-and-hafnium-statistics-and-information. Acesso em 10/12/2024

Reliable Hafnium Supplier for Superior Industry Solutions. Disponível em https://www.aemmetal.com/hafnium.html?gad_source=1&gclid=EAIaIQobChMIjr2dg-2figMVwkBIAB3bgxkyEAAYASAAEgJdl_D_BwE. Acesso em 11/12/2024.

Zircônio no Brasil. Dados de 2012. Disponível em  https://sistemas.anm.gov.br/publicacao/mostra_imagem.asp?IDBancoArquivoArquivo=9012. Acesso em 10/12/2024.

Aerospace, electronic demand drive hafnium’s 400% record surge. Disponível em https://www.mining.com/web/aerospace-electronic-demand-drive-hafniums-400-record-surge/. Acesso em 10/12/2024.

The Element Hafnium. Disponível em https://education.jlab.org/itselemental/ele072.html. Acesso em 10/12/2024.

ATKINS, P. W. Shriver & Atkins química inorgânica. BOOKMAN, 2008.

SAMPAIO, J. A.; LUZ, A. B.; ALCANTERA, R. M. e ARAÚJO, L. S. (2001). Minerais pesados Millennium. In: Usinas de Beneficiamento de Minérios do Brasil. CETEM/MCT. Rio de Janeiro. p. 231-239.

STRATHERN,P. O sonho de Mendeleiev: a verdadeira história da química. (tradução de Maria Luiza X. de A. Borges). Ed. Zahar. 2002.

 

Texto produzido pela jornalista Mari Menda da Gerência de Relações Institucionais
do CRQ-SP e revisado pela Profa. Márcia Guekezian, Coordenadora do curso de
Engenharia Química da Faculdade de São Bernardo do Campo – FASB

Compartilhar