A Comissão Técnica de Alimentos e Bebidas do CRQ-SP promoveu nesta quinta-feira a live Desmistificando os Alimentos, para analisar as notícias falsas que circulam na internet a respeito de ingredientes e métodos de produção de alimentos. A live está disponível no canal do CRQ-SP no YouTube.

Três especialistas da área discutiram notícias que tiveram grande repercussão na internet, como as salsichas contendo papelão, os nuggets com penas e bicos de frango e a mortadela de carne de cavalo, entre outras fake news.

Os palestrantes convidados foram o químico industrial Fábio Franco, que tem mestrado em Ciência dos Alimentos pela USP-São Paulo; a doutora em Ciências, Tecnologia e Engenharia de Alimentos pela FCF-USP, Daniele Faria, e o mestre em Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal Tecnológica do Paraná, Deivid Padilha Schena. A mediação ficou a cargo de Erika Cardoso, engenheira de alimentos.

Papelão e conservantes

A primeira pergunta foi para Fábio Franco: a salsicha é feita com papelão? Ele disse que essa informação é absurda, e o papelão é utilizado apenas na embalagem final do produto. Ele explicou como a salsicha é produzida com vários tipos de carnes, é um produto altamente controlado e possui bom valor nutricional. Ele descartou totalmente a possibilidade de o produto receber papelão. É uma fake news.

Daniele Faria respondeu em seguida sobre a presença de conservantes em leite de caixa e de saquinho. Ela disse que esses leites não contêm conservantes, e que é importante ler os rótulos para obter informações. Explicou que o leite de caixa antes de ser embalado passa por um tratamento térmico chamado UHT, que elimina as bactérias, e a embalagem tetrapak isola o produto, e impede que ele tenha contato com bactérias. Já o leite de saquinho passa pela pasteurização. Considerou fake news as notícias sobre a presença de conservantes no leite.

Nuggets e hamburgers

Fábio Franco falou a seguir sobre a composição dos nuggets, explicou em detalhes como são produzidos, e negou que tenham em sua composição penas e bicos de frango. Explicou que os frigoríficos que produzem nuggets são bastante controlados, além do que penas e bicos iriam deteriorar o produto, sem qualquer ganho para o produtor. Fake news, segundo ele.

A seguir Fabio negou que hamburger seja feito de minhoca. Explicou que seria impossível criar minhocas e utilizá-las para isso, lembrou que esta é uma fake news bem antiga. Ele disse que um quilo de minhoca teria um preço muito alto, além disso seria impossível transformá-la em um alimento. Mais uma fake news.

Deivid respondeu ao boato de que a margarina está a uma molécula de se transformar em plástico, negando que isso seja verdade. Ele fez um histórico da produção de margarina, que foi criada na época de Napoleão. Lembrou que ela é uma mistura de água e óleo, com estabilizante e outros ingredientes, e passa por um processo químico para se tornar sólida. Disse que a longa duração do produto está mais associada à sua formulação com água e óleos.

Fábio a seguir negou que a mortadela tenha carne de cavalo, detalhou o processo de produção da mortadela e negou que o uso de carne de cavalo seja admissível na indústria nacional. Daniele, em seguida, chamou a atenção para a contaminação que ocorre nos supermercados por conta da manipulação e de fatiadores que não são limpos adequadamente.

Colesterol, hormônios e chocolates com látex

Deivid respondeu à pergunta sobre se o óleo de soja contém colesterol. Ele explicou que o colesterol está presente em gordura animal, e o óleo de soja é vegetal.” Óleo de soja muitas vezes é melhor que muitos tipos de óleos que existem no mercado”, disse. Fabio explicou os problemas que o colesterol gera, e informou que 70% do colesterol é produzido pelo organismo de cada pessoa, o restante é consumido por meio de alimentos.

Daniele explicou que não se deve lavar a carne crua para evitar contaminação, nem lavar ovo, e lavar a tábua de carne e utensílios depois que receberam carne crua para evitar contaminação cruzada.

Na sequência Fabio negou que os frangos recebam hormônios para crescer mais, e Deivid negou que o chocolate possa conter restos de luvas na composição. Ele explicou que uma norma antiga obriga a rotulagem a incluir até mesmo quantidades traço de um produto. Explicou como é a produção do chocolate, e na etapa de desmoldagem funcionários podem usar luvas de látex para não deixar impressões digitais no produto, por isso os rótulos trazem informação de que ele pode conter látex, o que ocorreria apenas no manuseio do produto, e não em sua composição, para informação de pessoas alérgicas.

Mais de 200 pessoas participaram da live, que pode ser acessada aqui.