CRQ-SP esclarece dúvidas sobre uso de metanol na adulteração de bebidas em reportagem do Estadão
CRQ-SP esclarece dúvidas sobre uso de metanol na adulteração de bebidas em reportagem do Estadão
Glauce Guimarães Pereira, membro da Comissão de Serviços Laboratoriais, esclareceu os questionamentos1 de outubro de 2025, às 7h51 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos
Na noite de 30/09, o jornal O Estado de São Paulo publicou reportagem sobre os recentes casos de intoxicação por metanol em São Paulo. O texto reuniu a contribuição de diferentes especialistas, entre eles a química Glauce Guimarães Pereira, integrante da Comissão Técnica de Serviços Laboratoriais do CRQ-SP.
Na reportagem, Glauce explicou que o metanol puro apresenta odor típico alcóolico, semelhante ao etanol. Por esse motivo, quando adicionado em destilados que possuem entre 30% e 40% de teor alcoólico, sua presença não é perceptível no sabor.
No caso da cerveja, o cenário é diferente: o teor alcoólico mais baixo (4% a 6%), aliado ao maior conteúdo de água, compostos voláteis leves e complexidade aromática, faz com que qualquer alteração química seja mais facilmente notada. Dessa forma, a adulteração de cervejas com metanol é pouco provável, uma vez que mesmo pequenas quantidades seriam perceptíveis.
Além das informações publicadas, Glauce esclarece, a pedido do CRQ-SP que, no caso do vinho, a situação é intermediária entre a cerveja e as bebidas destiladas. A fermentação de uvas naturalmente gera pequenas quantidades de metanol devido à degradação das pectinas presentes nas cascas e polpas, sobretudo em vinhos tintos, onde há maior contato com a parte sólida da fruta. Essas concentrações, porém, são geralmente muito baixas e regulamentadas por lei, não representando risco à saúde.
Do ponto de vista sensorial, o metanol também não apresenta sabor marcante nem odor característico, e, por estar misturado ao etanol e a centenas de compostos aromáticos do vinho, sua presença passa despercebida ao paladar humano em níveis normais. Entretanto, em casos de contaminação acidental ou adulteração, a concentração pode se elevar e provocar alterações perceptíveis, como notas alcoólicas agressivas, sensação de queima na garganta ou aromas químicos incomuns — sinais que, embora sutis, indicam que a bebida está fora do padrão esperado. Isto é, seria mais fácil perceber pelo sabor a adulteração em vinhos e cervejas do que em bebidas destiladas como vodka e gin.
O CRQ-SP reafirma seu compromisso com a sociedade, com os profissionais da Química e com as empresas do setor, reiterando que mantém fiscalizações técnicas em indústrias de bebidas, de forma presencial e embasadas em critérios legais.
Também reforça que empresas que realizam atividades químicas devem cumprir a legislação vigente, mantendo registro no Conselho e designando profissional habilitado para assumir a Responsabilidade Técnica.
Vale lembrar que o metanol é incolor e com odor e sabor semelhantes ao etanol, o que o torna praticamente indistinguível por simples observação sensorial. Sua identificação somente é possível por meio de análise química de cromatografia gasosa. A orientação dos especialistas é que bares, restaurantes e consumidores adquiram produtos exclusivamente de fornecedores idôneos, assegurando-se de que as embalagens estejam lacradas e originais, além de solicitar o laudo laboratorial dos lotes adquiridos.
Com o objetivo de aprofundar o debate e esclarecer a sociedade, o CRQ-IV/SP promoverá uma live na próxima segunda-feira, 06/10, às 14h, no canal @crqsp no YouTube.
A matéria completa do Estadão pode ser acessada neste link (precisa ser assinante para ter acesso).