Elemento Químico – Seabórgio
Elemento Químico – Seabórgio
13 de agosto de 2025, às 11h25 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos
O elemento sintético que homenageia Glenn Seaborg e intriga cientistas desde 1974

O seabórgio é um elemento químico de símbolo Sg, de número atômico 106 e número de massa 263,118 u. É um elemento sintético, ou seja, que não tem ocorrência natural, pertencente à classe dos metais de transição, localizado no grupo 6 da Tabela Periódica. O seabórgio é um metal radioativo. Poucos átomos do elemento já foram produzidos. Sua química provavelmente se parece com a do tungstênio.
O seabórgio é um elemento transurânico. Ele é produzido utilizando-se aceleradores de partículas. O elemento é sólido à temperatura ambiente e sua aparência não é conhecida, mas imagina-se que seja um metal prateado claro ou cinzento. Também não são conhecidos o ponto de fusão, o ponto de ebulição nem a densidade do elemento.
Os isótopos do seabórgio são instáveis e possuem meias vidas muito curtas. Existem 12 isótopos já conhecidos do seabórgio. O que apresenta maior meia-vida é o isótopo 271Sg, que decai por partículas alfa e fissão espontânea em 2,4 minutos. O isótopo com meia-vida mais curta é 258Sg, que também decai por partículas alfa e fissão espontânea. Sua meia-vida é de 2,9 milissegundos, ou 2,9 milésimos de segundo.
Atualmente não há aplicações práticas para o elemento, que é utilizado apenas em pesquisas e não se tem conhecimento sobre suas reações com a água, ar, ácidos e bases, pois dificilmente são produzidas amostras estáveis em quantidades significativas, ou seja, são poucos átomos e eles se mantêm por poucos minutos.
Obtenção do seabórgio
Como o seabórgio é um elemento sintético, há uma barreira para sua obtenção, pois isso demanda equipamentos de grande tecnologia e condições extremas.
Átomos como o seabórgio são formados a partir da reação de fusão de átomos mais leves utilizando raios iônicos de altíssima energia utilizando um feixe de plasma induzido em grandes aceleradores de partículas. O seabórgio é obtido pelo bombardeamento de 249Cf (califórnio-249) com núcleos de 18O (oxigênio-18), sendo comprovada a síntese do elemento 106 por meio da análise dos decaimentos de partículas alfa.

Americanos e soviéticos
O elemento 106 foi descoberto quase que simultaneamente por dois laboratórios diferentes.
Em junho de 1974, pesquisadores norte-americanos liderados por Albert Ghiorso, no Laboratório Lawrence de Radiação, na Universidade da California, em Berkeley, anunciaram a obtenção de um isótopo do elemento 106 com número de massa 263 e meia-vida de 1 segundo. Em setembro de 1974, um grupo de cientistas soviéticos liderados por Georgi Flerov e Yuri Oganessian, no Instituto Central de Pesquisas Nucleares da cidade de Dubna, anunciou a produção de um isótopo com número de massa 259 e meia-vida de 0,48 segundos.
Os norte-americanos produziram o seabórgio ao bombardear átomos de 249Cf com íons de 18O usando o Acelerador Linear de Íons Superpesados existente no Laboratório Lawrence. A colisão produziu átomos de seabórgio-263 e quatro nêutrons livres.
Já os soviéticos produziram seabórgio com um método diferente dos americanos. Bombardearam átomos de 207Pb e 208Pb com íons de 54Cr em um dispositivo chamado cíclotron, e anunciaram ter produzido átomos de 259Sg.
Como o trabalho de Berkeley foi confirmado primeiro por pesquisadores independentes, os norte-americanos sugeriram o nome seabórgio para o novo elemento. Eles homenagearam o químico norte-americano Glenn Seaborg, que fazia parte do grupo de Berkeley ao lado de Albert Ghiorso, por sua participação na descoberta de vários outros actinídeos. O nome escolhido causou controvérsia, já que Glenn Seaborg estava vivo – e atuante – na época, e normalmente dava-se o nome de pessoas falecidas ou de lugares aos novos elementos. A IUPAC decidiu adotar um nome provisório, unnilhexium, e o símbolo Unh ao novo elemento até que a controvérsia fosse resolvida. Um comitê internacional decidiu em 1997 que o elemento 106 poderia se chamar seabórgio internacionalmente.
Quem foi Glenn Seaborg

Glenn Seaborg foi um químico, pesquisador e professor norte-americano responsável pela descoberta de vários elementos do grupo dos actinídeos. Além de emprestar seu nome ao elemento 106, ele dividiu o Prêmio Nobel de Química de 1951 com Edwin Mc Millan pela descoberta dos elementos transurânicos.
Seaborg nasceu em 1912, no estado do Michigan, entrou para a universidade da Califórnia, em Los Angeles, em 1929, e em 1937 já era Ph.D. em Química pela Universidade da Califórnia, em Berkeley. Lá ele desenvolveu grande parte da carreira; publicou estudos científicos, foi professor, e assumiu a direção de pesquisas nucleares do Laboratório de Radiação Lawrence, operado pela Comissão de Energia Atômica da Universidade da Califórnia.
Como uma das maiores autoridades científicas na área de energia nuclear, Seaborg foi conselheiro científico de dez presidentes norte-americanos durante 50 anos, começando por Harry Truman, passando por John Kennedy e Richard Nixon até Bill Clinton. Ele trabalhou entre 1942 e 1946 no Projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba atômica. Suas pesquisas também incluíram a descoberta de inúmeros radioisótopos utilizados em medicina nuclear.
Em Berkeley, ele participou das pesquisas ou foi o descobridor de dez elementos: plutônio, amerício, cúrio, berquélio, califórnio, einstênio, férmio, mendelévio, nobélio e o elemento 106, que ganhou seu nome. Além disso, Seaborg e seus colegas foram os responsáveis pela identificação de mais de 100 isótopos de elementos em toda a tabela periódica. Ele é o autor do conceito dos actinídeos, e ao propor a existência desta nova série de elementos pesados, fez com que a tabela periódica chegasse ao seu formato atual.
Seaborg recebeu inúmeros prêmios ao longo de sua vida além do Nobel de Química, e faleceu em 1999. Além dele, apenas Albert Einstein teve a honra de emprestar seu nome a um elemento químico durante a vida. O einstênio, de número atômico 99, foi descoberto em 1952, quando Einstein estava vivo – ele nasceu em 1879 e faleceu em 1955. Seaborg teve a honra de ver seu nome definitivamente ligado ao elemento 106 em 1992.
Referências
Seaborgium. Disponível em https://www.chemeurope.com/en/encyclopedia/Seaborgium.html. Acesso em 29/04/2025.
The Element Seaborgium. Disponível em https://education.jlab.org/itselemental/ele106.html. Acesso em 29/04/2025.
Seaborgium. Disponível em https://periodic-table.rsc.org/element/106/seaborgium. Acesso em 29/04/2025
Glenn T. Seaborg. Disponíve em https://www.chemeurope.com/en/encyclopedia/Glenn_T._Seaborg.html. Acesso em 30/04/2025.
Seaborgium. Disponível em https://periodic-table.rsc.org/element/106/seaborgium. Acesso em 29/04/2025.
Glenn T. Seaborg Biographical. Disponível em https://www.nobelprize.org/prizes/chemistry/1951/seaborg/biographical/. Acesso em 30/04/2025.
Dr. Seaborg goes to Washington. Disponível em https://www.sciencehistory.org/collections/blog/dr-seaborg-goes-to-washington/. Acesso em 30/04/2025.
ATKINS, P. W. Shriver & Atkins química inorgânica. BOOKMAN, 2008.
EMSLEY, J. Nature’s Building Blocks: An AZ Guide to the Elements , Oxford University Press, Nova York, 2ª edição, 2011.
HAYNES, W. M., ed., CRC Handbook of Chemistry and Physics , CRC Press/Taylor and Francis, Boca Raton, FL, 97ª edição, versão da Internet de 2015, acessado em maio de 2025.
KOPPENOL, W.H. Paneth, IUPAC and the naming of elements. Helvetica Chimica Acta, n. 88, p. 95-99, 2005.
Texto produzido pela jornalista Mari Menda da Gerência de Relações Institucionais do CRQ-SP
e revisado pela Profa. Márcia Guekezian, Coordenadora do curso de Engenharia Química
da Faculdade de São Bernardo do Campo – FASB.