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Acesso em 03/12/2024 às 18h00.

Elemento Químico – Antimônio

Elemento Químico – Antimônio

Apesar de ter sido usado como cosmético e medicamento no Antigo Egito, ele é um elemento tóxico e que esteve no centro de uma guerra de versões e conhecimentos desde os tempos dos alquimistas

28 de agosto de 2024, às 11h17 - Tempo de leitura aproximado: 7 minutos

 

Antimônio: um tanto veneno, um tanto medicamento

Busto da Rainha Nefertiti: o cosmético kohl embelezava os olhos das mulheres
no Antigo Egito. Foto: Science Museum, London

 

Pense em um elemento químico com muita história para contar e um enorme prestígio entre os alquimistas.

Ele é citado na Bíblia. Como cosmético, embelezou os olhos das mulheres no Antigo Egito. Foi utilizado na Babilônia para esmaltar cerâmicas e se tornou uma matéria-prima crucial para os alquimistas na Idade Média em sua busca pela pedra filosofal e pela vida eterna.

História e importância não faltam ao antimônio, um elemento tóxico que também foi prescrito como medicamento e que gerou, inclusive, uma acirrada guerra de versões e de conhecimento entre cientistas que viraram antagonistas.

 

Ligas metálicas e medicamentos

O elemento antimônio: quebradiço e mau condutor de calor. Foto: Wikimedia Commons

O antimônio é um semimetal de número atômico 51. Ele está no Grupo 15 da tabela periódica, formado também por nitrogênio, fósforo, arsênio e bismuto. É quebradiço e mau condutor de calor e de eletricidade. Seu nome vem das palavras gregas anti e monos, que juntas significam “não sozinho”. Seu símbolo químico – Sb – provém de seu nome histórico, stibium. [1]

O antimônio e muitos de seus compostos são tóxicos, podendo causar vômitos e danos ao fígado.

Em sua forma elementar, o antimônio é prateado claro. Ele ocorre principalmente com o enxofre e com metais como,chumbo, cobre e prata.

O antimônio não é um elemento abundante e pode ser encontrado na natureza em pequenas quantidades em mais de cem minerais. A estibinita (Sb2S3) é o minério predominante para a obtenção de antimônio. O elemento é obtido por aquecimento da estibinita com ferro, o que leva à formação do metal e do sulfeto de ferro:

 

Sb2S3(s) + Fe(s) →  2 Sb(s)  + 3 FeS(s)      [5]

 

O mineral estibinita: principal fonte de antimônio.       Foto: Rob Lavinsky/Wikimedia Commons

O uso mais importante do antimônio metálico é como endurecedor do chumbo em baterias. Ele também é usado em soldas, em outras ligas metálicas e na tecnologia de semicondutores. O trióxido de antimônio é o composto mais importante formado a partir deste elemento, e seu principal uso é em formulações de retardantes de chamas. As aplicações dos retardantes de chamas incluem produtos como roupas infantis, brinquedos e capas para assentos de aeronaves e automóveis. [5]

O trisseleneto de antimônio (Sb2Se3) é um composto inorgânico que ocorre na natureza como o mineral antimoselita. Historicamente era usado em fogos de artifício e em artigos pirotécnicos e em pigmentos de tintas, vidros e explosivos.

A maioria destas aplicações foi descontinuada por causa da toxicidade deste composto, mas o trisseleneto de antimônio ganhou destaque entre os eletrônicos no século 21 como elemento fotovoltaico. Ele é utilizado atualmente em células solares de alta performance. [8]

Alguns medicamentos também são produzidos à base de antimônio e têm emprego no tratamento das leishmanioses e da esquistossomose. As leishmanioses são doenças parasitárias que atingem cerca de 12 milhões de pessoas no mundo. São zoonoses típicas de áreas rurais de regiões tropicais e subtropicais. A esquistossomose é uma doença parasitária crônica, transmitida por um caramujo que vive em águas limpas. Estima-se que, no Brasil, 8 a 10 milhões de pessoas estejam infectadas. [6]

Os principais medicamentos para tratamento de todas as formas de leishmaniose no homem são compostos à base de antimônio e vanádio. Dois derivados de antimônio pentavalente encontram-se em uso clínico desde 1945: o antimoniato de meglumina e o estibogluconato de sódio. Já a esquistossomose foi tratada durante 50 anos com antimoniais trivalentes injetáveis, que causam muitos efeitos colaterais. Por esta razão, foram substituídos por medicamentos menos tóxicos e ativos por via oral que utilizam o antimoniato de meglumina. [6]

A China é o maior produtor mundial de antimônio e respondeu por 55% da produção realizada em minas em 2022. Além da China, Rússia, Bolívia e Austrália foram os maiores produtores do semimetal naquele ano. A produção em minas foi de 110 mil toneladas em 2022 e as reservas mundiais são estimadas em mais de 1,8 milhão de toneladas. As estimativas sobre a abundância do antimônio na crosta terrestre variam de 0,2 a 0,5 partes por milhão.

 

Alquimistas, médicos e a guerra do antimônio

 

Alquimista e seus auxiliarem preparam experimentos. Foto: British Library/Wikimedia Commons

 

O antimônio e seus compostos já eram mencionados por civilizações antigas na China e no Egito. O Museu do Louvre, em Paris, guarda um vaso de antimônio com 5 mil anos. Desde a Antiguidade ele faz sucesso na Mesopotâmia, Egito, Grécia e Roma como o kohl, cosmético usado para realçar olhos e sobrancelhas das mulheres. Este cosmético era o sulfeto negro de antimônio, a estibinita. [4]

 Por suas excelentes qualidades de fundição, os caldeus usavam compostos de antimônio desde 4.000 a.C. para colorir vidros. Nos séculos 6 e 7 a.C. esta mesma civilização, que floresceu na região onde hoje é o sul do Iraque, utilizava um pigmento com antimônio, o antimoniato de chumbo amarelo. Este pigmento estava presente em esmaltes de tijolos ornamentais na época do rei Nebuchadnezzar, na Babilônia. [2]

Os alquimistas buscavam a pedra filosofal que, acreditavam, converteria metais comuns em ouro. Eles queriam obter o elixir da vida, garantindo a imortalidade, e para isso utilizavam amplamente o antimônio. Rhazes, o médico e alquimista persa do século X, descreveu o antimônio metálico, mas não se sabe quando esse semimetal cinza e quebradiço foi isolado pela primeira vez. [3]

Página do Traité de la Chymie, de 1669, mostra a calcinação solar do antimônio. Foto: digital.sciencehistory.org

No mesmo século X, o nome antimônio parece ter sido introduzido pelo médico Constantino, o Africano, que deu a denominação de antimonium ao stimmi (Sb2S3) dos egípcios, do qual supostamente extraía-se o metal. No século XIV, o alquimista Rupescissa preparou tinturas de antimônio.

Na mesma época, o médico Paracelso tinha em grande conceito os compostos antimoniais na medicina. Paracelso era um entusiasta do antimônio e chegou a indicar um certo óleo feito do elemento, conhecido veneno e usado em ligas metálicas, para tratamento da lepra.

A visão dos seguidores de Paracelso divergia das propostas de Galeno (130-201 d.C.), um famoso médico romano que considerava os metais venenosos. O período de 1560-1660 foi denominado como sendo o da “guerra do antimônio” e reflete o conflito na medicina  entre os conceitos Galênicos e as práticas de Paracelso. Como resultado, o uso do elemento na medicina foi proibido na França em 1566. [4], [7], [2]

Fourcroy, no seu livro-texto “Élemens de Chimie”, de 1780, menciona o antimônio como o mais citado dos elementos e o mais provável ponto de partida da maioria das reações preparadas pelos alquimistas. [3], [4]

A invenção da imprensa com tipos móveis por Johann Gutenberg, em torno de 1450, ampliou o uso industrial do antimônio, que passou a ser adicionado a ligas com chumbo para produção dos tipos. [4], [7]

Copos feitos de antimônio eram populares nos séculos XVII e XVIII como forma de induzir reações terapêuticas como suores, vômitos e higiene. O vinho era colocado nesses copos e deixado durante horas. O Químico francês Nicolas Lémery foi a primeira pessoa a estudar o antimônio cientificamente, além de seus compostos. Ele publicou suas descobertas em 1707. [2], [1].

 

Referências

[1] The Element Antimony. Disponível em https://education.jlab.org/itselemental/ele051.html. Acessado em 19/07/2024.

[2] Handbook on the Toxicology of Metals. 3ª ed. Gunnar et al.

[3] Rodgers, G. E. (2016). Química inorgânica descritiva, de coordenação e do estado sólido. São Paulo: Cengage Learning.

[4] Maar, J. H. (2008). História da Química-primeira parte dos primórdios a Lavoisier. Campinas: Conceito Editorial.

[5] Mark Weller, T. O. (2017). Química inorgânica. Porto Alegre: Bookman.

[6] Novas embalagens para medicamentos à base de antimônio usados no tratamento de leishmaniose e esquistossomose. Disponível em http://qnesc.sbq.org.br/online/cadernos/06/a07.pdf. Acessado em 24/07/2024.

[7] Paracelsus, the Alchemist Who Wed Medicine to Magic. Disponível em https://www.sciencehistory.org/stories/magazine/paracelsus-the-alchemist-who-wed-medicine-to-magic/. Acessado em 23/07/2024.

[8] Antimony triselenide. Disponível em https://www.acs.org/molecule-of-the-week/archive/a/antimony-triselenide.html. Acessado em 19/07/2024.

 

Artigo produzido pela Assessoria de Comunicação e Marketing do CRQ-IV/SP,
sob supervisão de Márcia Guekezian, coordenadora dos cursos de
Engenharia Química e de Produção da Faculdade de São Bernardo do Campo.

Publicado em 29/08/2024

 

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