Sistema CFQ/CRQs participa de audiência sobre hidrogênio
Sistema CFQ/CRQs participa de audiência sobre hidrogênio
Câmara dos Deputados discute o uso do gás sustentável na indústria12 de maio de 2023, às 16h13 - Tempo de leitura aproximado: 7 minutos
Uma audiência pública sobre a utilização do hidrogênio sustentável na indústria brasileira foi promovida pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável na Câmara Federal na quinta-feira, 11 de maio, e contou com a participação de representantes do CRQ-IV/SP e do CFQ.
Convocada pela Deputada Renata Abreu, (Podemos/SP), e subscrita pelo Deputado Bruno Ganem, do mesmo partido, a audiência teve oito palestrantes, que abordaram aspectos variados sobre obtenção, investimentos, planejamento, regulação e operacionalização para a futura produção de hidrogênio sustentável no Brasil.
CRQ-IV e CFQ – O representante do CRQ-IV/SP, Aislan Balza, abordou as iniciativas adotadas pela entidade em relação ao hidrogênio sustentável. Destacou a criação da Comissão Técnica de Energia, que discute assuntos como o hidrogênio sustentável e o lançamento, ano passado, do selo Hidrogênio Verde, usado em encontros técnicos,
textos e eventos relacionados ao tema. Ressaltou a importância dos profissionais da Química para o Brasil fazer esta transição energética, salientando que o conselho paulista tem uma comissão de especialistas que discute questões técnicas e de capacitação. “Como é uma área relativamente nova, não temos profissionais qualificados, e por isso o Conselho começou a promover cursos e lives com o objetivo de chamar a atenção da sociedade e dos químicos para a importância do tema”. Ressaltou que o CRQ-IV/SP incentiva a inclusão de disciplinas em cursos de Química para formar especialistas nessa área. Por fim, colocou o Sistema CFQ/CRQs à disposição para apoiar a regulação do setor e facilitar a cooperação e o intercâmbio entre empresas e instituições de pesquisa.
Alexandre Vaz Castro, presidente do Conselho Regional de Química da 21ª Região (ES) e integrante do Comitê de Relações Institucionais e Governamentais do Conselho Federal de Química, destacou a importância e a urgência de mudarmos a matriz energética, salientando que o hidrogênio é uma das fontes factíveis para isto. Disse que o Conselho Federal de Química está no cerne desta questão, já que reúne boa parte dos recursos humanos que vão trabalhar neste processo, ou seja, os profissionais da Química. “Um dos pilares dessa mudança são os recursos humanos: precisamos habilitar pessoas com competência e capacidade para evoluirmos nessa área”. Destacou que o Sistema CFQ/CRQs tem colocado em pauta a questão do hidrogênio e que é papel do Sistema facilitar o intercâmbio entre os profissionais da química e players externos.
Alexandre Vaz Castro convidou o deputado Bruno Ganem a participar, no dia 25 de junho, na Câmara Federal, da cerimônia que comemorará o Dia Nacional do Profissional da Química. Ele salientou que o evento ainda está em planejamento. Segundo Castro, na ocasião do evento da Câmara o CFQ pretende lançar um hub de combate à desinformação, tendo a questão energética e os biocombustíveis como uma das principais pautas. Bruno Ganem confirmou que participará do evento.
Oficialmente, o Dia do Profissional da Química é comemorado em 18 de junho, data que, em 1956, foi sancionada pelo então presidente Juscelino Kubitschek a Lei 2.800, que criou os Conselhos Federal e Regional de Química, dispôs sobre o exercício da profissão de químico e deu outras providências.
Iniciativas dos Ministérios
Mariana Espécie, diretora do Departamento de Transição Energética do Ministério de Minas e Energia, informou que as câmaras de trabalho do Ministério já concluíram o Plano Trienal do Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2). Ela ressaltou a importância da cooperação internacional na construção da agenda do hidrogênio sustentável, tanto em nível diplomático quanto em nível técnico. Informou que a Empresa de Pesquisa Energética já identificou mais de 20 bilhões de dólares em projetos anunciados para o Brasil, dentro do Plano Trienal.
Rafael Menezes, coordenador Geral de Tecnologias Setoriais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, falou sobre a estrutura do Programa Nacional do Hidrogênio, as iniciativas adotadas e o trabalho da Câmara de Fortalecimento das Bases Científico-Tecnológicas do PNH2. Disse que o ministério lançou recentemente a Iniciativa Brasileira de Hidrogênio (IBH2) que tem foco no desenvolvimento e na promoção da inovação e do empreendedorismo, que dará suporte ao PNH2.
Descarbonização e novas tecnologias
Davi Bomtempo, gerente executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI) explicou porque o hidrogênio verde é tão importante quando se fala em uma economia de baixo carbono. Ele falou sobre as tendências globais para a agenda de mudança do clima, citando a expansão de energias renováveis, uso de biomassa, captura de carbono com novas tecnologias, a necessidade de entender o CO2 como uma commodity, geração de crédito no mercado de carbono e a eletrificação de frotas de veículos.
Listou as vantagens comparativas do Brasil, que tem matriz energética limpa, com 84% vindos de fontes renováveis e grande disponibilidade de água, mas ressaltou que a grande questão é como transformar isso em vantagem. Alertou que o país precisa avançar rapidamente em termos de regulação, tanto no Congresso Nacional quanto no governo, para que os empresários possam desenvolver seu trabalho. Mostrou um plano para reindustrialização do Brasil, que inclui, entre outros pontos, a descarbonização e a transformação digital.
Alexandre Alonso Alves, Chefe Geral da Embrapa Agroenergia, disse que falar de hidrogênio sustentável obrigatoriamente leva a se falar de descarbonização e transição energética, um movimento de substituição dos combustíveis fósseis por combustíveis renováveis. Levantou a questão do hidrogênio produzido a partir de biomassa, que, segundo ele, faz uma ponte interessante com a agricultura nacional. “A agricultura é um dos pilares da nossa bioeconomia, o país consegue produzir alimentos com sustentabilidade, e a biotecnologia vai permitir que o país produza hidrogênio”. Quanto à produção de hidrogênio, disse que o país tem uma série de desafios logísticos e regulatórios, e o desenvolvimento dessas soluções requer tecnologia, campos em que a ciência e tecnologia têm que investir.
Camila Ramos, Vice-Presidente de Investimentos e Hidrogênio Verde da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) disse que a entidade vem trabalhando há dois anos com investidores em soluções de energia renovável no Brasil, e fortemente na utilização do hidrogênio renovável. Ela informou que o mundo já utiliza o hidrogênio renovável há décadas, tendo consumido mais de 100 milhões de toneladas de H2 em 2020. Aqui no Brasil, no entanto, a produção de hidrogênio é quase inteiramente concentrada na Petrobras, e o gás produzido não apresenta uso energético, sendo utilizado para consumo próprio da empresa.
Listou as oportunidades para o hidrogênio renovável no Brasil, citando a amônia no mercado de fertilizantes, um dos setores que mais emite CO2 no mundo, e o setor aéreo, também um dos maiores emissores de CO2, por isso é importante a descarbonização do setor da aviação. Ela informou que a Absolar apresentou várias contribuições ao Plano Trienal do PNH2, entre elas incentivar a cadeia de valor do H2 renovável para atrair 200 bilhões de dólares em investimento ao Brasil nos próximos 20 anos; diminuir os prazos de execução das ações previstas no Plano Trienal e fazer a substituição progressiva do H2 e da amônia de origem fóssil por origem renovável.
Paulo Emílio Valadão de Miranda, Presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio – ABH2 – vê grandes possibilidades para o Brasil na produção do hidrogênio. “A economia do hidrogênio é capaz de estimular o desenvolvimento econômico através da geração de inovação, de empregos de alta qualificação e do desenvolvimento de indústrias, e esta pode ser uma ferramenta de reindustrialização do Brasil”. Falou sobre as possibilidades de uso de biomassa na geração de hidrogênio sustentável e da presença de hidrogênio natural no território brasileiro.
Informou que vários estados brasileiros já anunciaram a criação de polos de produção e armazenamento de hidrogênio, inclusive São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia, e alertou que para atingirmos a neutralidade climática em 2050 o Brasil terá que atingir neutralidade em carbono em 2040. “Isso só será atingido se diminuirmos o desmatamento de nossos biomas”. Convidou os participantes para o 3º Congresso Brasileiro do Hidrogênio, de 29 a 31 de maio, em Maricá, no Rio de Janeiro, que contará com a participação de várias empresas já ligadas à ABH2.
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